Em 1830 Anita estava com nove anos segundo alguns, dez,segundo outros. Sua mãe já notava que, decididamente, aquela sua filha não era sequer parecida com alguma de suas outras quatro filhas: Felicidade. Manuela, Bernadina e Antônia. Já desconfiara de daria mais trabalho até mesmo que seus filhos : Manoel. João,Salvador e Francisco. Sua mãe chamava-se Maria Antônia de Jesus e era conhecida como Maria Bento por ter se casado com o tropeiro, possivelmente curitibano , Bento Ribeiro da Silva, Chico Bentão ou Bentão, como lhe chamavam os moradores dos arredores de Lages.
Filha de pais Portugueses , a mãe de Anita, para seguir a tradição lusa, casaria as filhas cedo. Anita pensava ela , o mais cedo que pudesse.
Ninguém imaginaria que na França, depois de um retrocesso terrível e da população indignida ver novamente os Bourbons no trono, cerrando as portas dos jornais,assassinando pessoas da oposição e restringindo toda a liberdade, finalmente a burguesia tinha achado um meio termo que calasse as ambições populares com mãos enluvadas e servisse aos seus interesses tão bem: Um rei constitucional !
Não passava pela cabeça de Anita e de sua família, que pautavam o seu dia no trabalho e na sobrevivência, que isso encheria de júbilo a Itália, os mazzinianos do movimento jovem Itália e , dentre eles,Garibaldi . A Europa vivia, desde a completa derrota de Napoleão, num estado mórbito.
A Santa Aliança, união dos países que se encarregara de abolir Napoleão do cenário político, havia feito um mapa "sui-generis " para o continente , conforme o desejo, o interesse e a rapidez do interlocutor. As terras disponíveis foram distribuídas, levando em conta o grau de parentesco dos interessados, não importando o que pensassem as pessoas que nelas vivessem.
Assim, sem o conhecimento de Anita, a Itália foi dividida em sete pedaços . A Aústralia tinha o Tirol, parte da Lombárdia, Venesa e a Dalmácia. Os Estados Pontifícios agruparam para si o poder econômico, espiritual e temporal sobre 44 distritos e 626 comunas ao redor de Roma . Os reino de nápolis, da Sardenha, os ducados de Parma, Modena e Toscana viviam em constantes brigas entre si sobre questões de terra , além de , por vezes , surgir algum governante nascido em Madagaskas para reorganizar, sob moldes árabes, , toda a burocrasia. Isto é, dependiam dos Congressos de Viena, sede do então ímperio austro-húngaro, e da boa veia da Santa Aliança que não houvesse maiores disparates com as fronteiras. Anoitecendo um italiano e amanhecendo um cidadão russo. Esse era o meio que a nobreza tinha para deixar enfraquecido o sentimento nacional que brotava em cada pessoa do povo. A revolução de 1789 tinha feito um país e isso ninguém esquecia. Todos poderiam ter seu país, sua língua , suas tradições, sua cultura e religião. Isso fazia com que , embora os esforços da nobreza , se proliferassem as sociedades secretas e Mazzini um republicano um ideólogo da unificação italiana , tivesse as atenções da " bota " voltadas para seu jornal , seus discursos e palestras .
Anita , mesmo depois , quando esteve na Itália, não teve ter entendido o caráter de classe do senhor Mazzini ; se ele dave um sentido pequeno-burguês para a sua luta , ou burguês, ou operário. Interessava a ela, perfeitamente identificada com o seu amado Garibaldi eo povo italiano , que seus ducados, suas cidades-estados, seus principados , seus estados , emfim, que tudi aquilo e mais um pouco, se unissem formando um só país e que à sorte desse país fosse traçada por pessoas nele nascidas , sem a ainterferência do mau-humor de Alexandre da Rússia , ou da diarréia que poderia se abater a qualquer momento ao senhor supremo do ímperio austro-húngaro.
Depois de participar de uma frustada tentativa de levantar em Pielmonte. Garibaldi teve sua cabeça a premio pelo governo Austríano. Já exilado na França. ele tenta trabalhar em navio mercantes por algum tempo, mas o navio e a falta de contato e perspectivas, para que novamente houvesse alguma possibilidade de participação na luta , já que o movimento estava se reorganizando, fazem Garibaldi decidir pela vinda ao Brasil . Muitos de seus patrícios, também proibidos de pisar em solo italiano, já tinham vindo . Ele os seguiria, então .
Anita sequer sonhou no dia que Garibaldi saiu embarcado na fragata Nautionnier, como imediato. Ela tinha então quinze anos e convivia com o sapateiro Manuel Duarte Aguiar, 26 anos , com quem havia se casado, trinta de agosto de 1935, em Laguna. Sua mãe , já viúva em paz desde que encaminhara a filha mais nova. Mal sabia ela que, num navio francês, vinha aquele homem dos olhos atlânticos e que hipnotizaria a filha , transformando-a na prostituta à qual Laguna tudo faria para raspar a cabeça. E anos, muitos anos mais tarde, para redimi-la, colegias discretas, na aula de música do colégio público, aprenderiam a cantar um singelo ( para não dizer medíocre ) hino em sua homenagem, repetindo-o nas inaugurações que a cidade faria lembrando seu nome . E Laguna , orgulhsíssima, seria conhecida nos catálogos históricos como berço da mulher que, em épocas remotas e devidamente esquecidas , tanto odiara e que se convencionou chamar " heroína de dois mundos " .
Tirado do livro Anita Garibaldi " A paixão .O ciúme. As angústias de uma guerreira. Única mulher a entrar na história farropilha ". MARÔ SILVA . Coleção esses Gaúchos.
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